segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Um Pequeno Pedaço do Paraíso - Fase 1 - Capítulo 4


IV Uma pessoa da qual não quero me livrar

“É bastante simples. Minha razão é simples de se entender. Encontrei uma razão para viver. De hoje em diante, viverei por ela”.
    Teresa (Claymore)
            Voltando ao tempo presente, fazia quase dez minutos que eu observava a casa quando, de repente, o portão abriu e (acho que o destino gosta de sacanear com a minha cara) a namorada do Luan apareceu e o arrastou para fora.
            - Eu já disse para você ir embora! Eu estou esperando uma pessoa!
      - Mentira! Você só está dizendo isso para que eu vá embora, mas eu não sairei daqui antes de conversarmos.
            Eu não sei explicar o que aconteceu em seguida, nem o que diabos eu estava pensando, só sei que, quando percebi, eu já estava atravessando a rua, indo em direção a eles. O Luan foi o primeiro a me ver, ele não pareceu notar a minha intenção (não que eu tivesse planejado algo), já a Thayanne (que pelo jeito não perde nenhuma oportunidade) aproveitou a minha chegada.
            - Até que enfim! - ela agarrou o meu braço e me puxou na direção da casa – Vamos entrar.
           - Espera. - finalmente meu cérebro voltou a funcionar normalmente, então eu fiz sinal para um táxi que passava – Entra.
            Acho que ela estava desesperada para se ver livre dele, porque entrou no carro sem reclamar e ainda mandou o motorista nos levar para o shopping, durante os vinte minutos da viagem nenhum de nós pronunciou uma palavra sequer. Foi uma viagem um pouco estranha, o motorista ficava nos observando pelo retrovisor e estávamos em extremidades contrárias do banco. Mas assim que saímos do carro ela segurou a minha mão e sussurrou no meu ouvido.
            - Não olha, mas o Luan está nos seguindo.
            - O que foi que você viu nesse cara? - eu a puxei para o meio da multidão.
          - Ele é gostoso, idiota o suficiente para me bancar e tem carro, embora nos últimos dias esteja impossível conviver com ele.
            Definitivamente aquela era a garota mais estranha que eu já tinha conhecido, ela me arrastou pelo shopping durante quase três horas, ela ia de loja em loja, as vezes via um vestido que gostava, logo depois era um videogame de última geração, todo o tempo ela continuou falando sem parar, mas era um tipo diferente de conversa daquelas que eu imaginei, ela falou sobre o placar do vôlei, o resultado do campeonato de judô e centenas de outras coisas sem importância, mas que por algum motivo eu gostei de ouvir, ela era diferente de todas que eu já havia conhecido, só tinha um único defeito: o ex-namorado dela.
            Aquele idiota nos procurou pelo shopping durante todo o tempo que estivemos lá, eu o vi três vezes e a Thayanne outras quatro, toda vez que o víamos nós mudávamos de direção para evitá-lo, mas na oitava vez não tínhamos como fugir, ele vinha diretamente em nossa direção, então eu fiz algo que poderia ser muito bom ou ruim, dependendo da reação da Thayanne, encostei-a na parede da loja a nossa esquerda e a beijei.
            Devo dizer, até esse momento não consegui definir o que foi melhor, a parte do beijo... hum... ok, a segunda melhor coisa, a cara de surpresa da Thayanne ou a de ódio do Luan quando puxou o meu braço e me afastou dela.
            - O que vocês estão fazendo? – que tipo de idiota não sabe o que é um beijo? – O que você está fazendo?
            A gota foi ele gritar olhando na minha cara e apontando o dedo para mim, pela segunda vez eu bati nele, mas dessa vez eu tive a certeza de socar (e quebrar) o nariz dele. Com certeza ser um bad boy tinha um lado bom, eu fui expulso do shopping, é claro, mas a sensação foi muito boa.
            - Você deveria parar de bater nele.
            Nós estávamos em uma praça que ficava entre as nossas casas, havia uma mercearia ali próximo e eu tenho algo a falar, mesmo que seja uma mercearia, eles não deveriam vender bebidas alcóolicas para menores de idades, mas já que eles vendiam...
            - Acho que não, eu gosto de bater nele, faz eu me sentir bem.
            Nós ficamos (nos dois sentidos da palavra) ali naquela praça até o sol se pôr, então ela pegou um táxi e eu voltei caminhando para casa, eu estava usando uma faixa protetora para a perna que a Thayanne havia comprado e essa foi a primeira coisa que as gêmeas de idade diferentes notaram (eu juro, se antes do final desse livro eu não mata-las podem ter certeza que eu irei para o céu).
            - Onde foi que você comprou isso? – a Andréia perguntou – Ou melhor, quem comprou isso para você?
            - Uma amiga.
            É claro, essa deve ter sido a pior resposta que eu já dei em toda a minha vida, o Rogério faltou pular do sofá de surpresa e as outras ficaram me encarando de boca aberta, então eu fiz aquilo que eu fazia de melhor, ignorei todos eles e fui para o meu quarto.
            Na escola, no dia seguinte, a primeira pessoa que eu vi quando entrei na sala foi o Luan, era óbvio que ele estava me esperando, já que a sala dele era outra, ele estava com um curativo no nariz, então, eu já tinha ganhado o meu dia.
            - O que você quer?
            Aquela criatura devia estar possuída, ele encostou o dedo no meu peito e me empurrou.
            - Eu quero que você fique longe da minha namorada, ou então eu não respondo por mim!
            - E quem vai responder? A sua mamãe? Ou a babá?
            Essa pergunta fez com que toda a sala caísse na gargalhada, o Luan ficou mais vermelho que um tomate e saiu da sala batendo o pé, então eu calmamente caminhei até a minha carteira e sentei para assistir a aula.
            Quando deu o horário do intervalo eu fui dar uma volta além dos limites do colégio. Acontece que escondida no fundo do bosque havia uma passagem para fora do terreno da escola, foi ali próximo que eu encontrei o Luan e a Thayanne brigando.
            - Eu já disse para você me deixar em paz! Nós já terminamos e dessa vez é definitivo!
            - Você está terminando comigo por causa daquele garoto? Ele já ficou com todas as garotas da sala dele, você é só mais uma conquista para ele, você vai ver só, quando ele te trocar por outra você vai se arrepender do que está fazendo comigo.
            - Escute uma coisa Luan, Thayanne Melo nunca é mais uma conquista, ou sou apenas eu ou não é ninguém e isso é uma das coisas que você não entendeu! Agora sai da minha frente antes que eu arranje um par para esse teu curativo ridículo!
            Acho que no final das contas ele não era tão retardado quanto eu pensava, porque ele realmente foi embora, provavelmente ele sabia que ela estava falando sério.
            Eu estava escondido a alguns metros dele, o Luan não me viu passar ao passar e quando a Thayanne passou eu tive a nada brilhante ideia de segurá-la pelo braço. O golpe de judô que ela me aplicou me deixou caído de costa no chão com ela montada encima de mim.
            - Você realmente não devia tentar agarrar uma garota indefesa dessa maneira.
            Eu rolei para o lado e inverti as posições, mas ela ainda segurava o meu braço em um ângulo estranho.
            - Eu prefiro ficar por cima se você não se importa, e, definitivamente, a única pessoa indefesa aqui era o teu namorado idiota.
            Eu saí de cima dela e a ajudei a levantar. Ela tirou algumas folhas que estavam presas no cabelo e me olhou com curiosidade.
            - O que você está fazendo aqui?
            - Eu confesso, eu ia fugir, ficar trancado dentro da sala assistindo aula de Língua Portuguesa me dá náuseas.
            - Eu não acho, a professora é...
            Ela não chegou a completar a frase, pois eu tampei a boca dela com a minha mão quando ouvi as vozes das gêmeas.
            - Você tem certeza que o viu vir por aqui? – a Andréia estava na orla do bosque.
            - Tenho certeza. – respondeu a Ângela – Ele entrou bem aqui.
            - Acho que ele já deve ter voltado para a sala, então vamos.
            Eu fiz sinal para a Thayanne me seguir e saímos da escola pelos fundos, ainda bem que ela estava carregando a bolsa dela, assim os professores não dariam pela falta dela.
            - O que há entre você e aquelas duas?
            - Elas são filhas da namorada do me pai e estão se achando as minhas irmãs, então eu tento evitá-las o máximo possível.
            - Namorada do seu pai? E a sua mãe?
            - Ela morreu alguns anos atrás, então eu moro com ele, que na verdade é meu padrasto, já que o meu progenitor abandonou a minha mãe antes de eu nascer.
            - Hum... História trágica. – ela me olhou com um ar de deboche – Por isso você é tão malvado? Imagina se você tivesse sido criado por uma madrasta.
            Eu parei e a observei por alguns segundos, era completamente incrível o fato de ela estar fazendo piada por eu ser órfão, definitivamente era a primeira vez que eu ouvia aquilo.
            - O que foi? – ela perguntou quando me viu encarando.
            -Nada. O que você quer fazer agora que fugimos.
            - Não sei, que tal começar me pagando um sundae?
            Então nós fomos para uma sorveteria.
            Deixem-me reforçar minha primeira impressão, eu definitivamente não conseguia entender aquela garota, ela tinha umas ideias bem estranhas da vida, ela me contou sobre a época em que ela tinha três namorados, qualquer outra pessoa no mundo (inclusive eu, tenho que admitir) consideraria isso uma traição, mas para ela não, nas próprias palavras dela “não é traição se os Cep’s forem diferentes”, acho que se mudasse o DDD para ela já era o  suficiente.
            A conversa foi interessante, mas acabou quando, três horas depois, as gêmeas passaram por onde nós estávamos.
            - Sam?! – elas pararam e ficaram nos encarando – O que você está fazendo aqui?
            Várias respostas passaram pela minha cabeça, mas não tive tempo de usá-las, para deixar as coisas mais interessantes, voou terminar esse capítulo com a pergunta que a Thayanne fez para mim:

            - Quem são elas amor?

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